Conforme já mencionado na postagem anterior, uma possibilidade na composição de padrões é o uso de escalas.
Esse link apresenta um pdf que exemplifica o processo de construção de um padrão utilizando variações de escala.
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Lula Rocha: O que é Rapport?
Reproduzo abaixo o excelente texto do meu colega, professor Lula Rocha, sobre Rapport.
Lula dá aulas de diversas disciplinas e já foi mencionado neste blog ao falarmos de seus tutoriais no site Metapix (ver aqui e aqui).
A pedido da professora Evelise Anicet Ruthschilling, retifico as informações que constam aqui. A base das informações descritas aqui encontram-se no livro de autoria dela: Design de Superfície, Editora da UFRGS, primeira edição 2008, segunda edição de 2013. Portanto, considere-se a obra como referência para a postagem:
RUTHSCHILLING, Evelise A.. Design de Superfície: ; Porto Alegre: Editora UFRGS, 2008
O que é Rapport?
Na área do Design de Superfície e Estamparia, o termo Rapport é traduzido, tanto em inglês como em português, como Repeat ou Repetição.
No entanto, Rapport não é simplesmente repetição e uma boa parte das explicações tradicionais não esclarece bem o conceito e acaba gerando confusão.
Então, neste artigo eu vou apresentar a minha definição de Rapport e mostrar alguns exemplos que, eu espero, ajudem você a visualizar, entender e poder aplicar nas suas criações:
Rapport é um tipo especial de repetição,
de um módulo com encaixes perfeitos,
projetado para alcançar um resultado específico.
O segredo do Rapport está no encaixe entre os módulos
O módulo é a menor parte do padrão que contém todos os seus componentes visuais; motivos, linhas, cores, texturas, espaços, etc. E o padrão é o resultado da repetição ordenada deste módulo.
Mas no padrão com Rapport, o módulo tem mais um componente decisivo que fica sempre meio escondido: o encaixe.
Este módulo especial, que eu particularmente gosto de chamar de “Módulo com Rapport”, tem que ser projetado de maneira que o complemento de um lado seja repetido no lado oposto, para que, quando posicionados lado a lado, os módulos se encaixem formando motivos inteiros.
No exemplo acima os lados se completam formando motivos inteiros, mas voltando a definição, existem outras situações ou variações onde estes “resultados específicos” também só são alcançados se o módulo for projetado com “encaixes perfeitos”. Vamos ver mais exemplos:
Continuidade
No padrão continuo os módulos se entrelaçam, as emendas desaparecem, o desenho original fica escondido e não se pode identificar um começo ou fim. Este tipo de padrão também é conhecido como “Padrão sem emendas”, em inglês Seamless Tile.
Allover
No padrão Allover os motivos são espalhados, rotacionados e refletidos de maneira que não podemos dizer se o padrão está de cabeça para cima ou para baixo.
Fechamento (Figura e Fundo)
Popularizado pelo famoso artista holandês M.C. Escher, o padrão com fechamento, também conhecido como clausura ou efeito de Figura e Fundo (nas leis da Gestalt), acontece quando os módulos se encaixam de tal maneira que o desenho inicial dá origem a novos desenhos.
Repare no exemplo acima que foi utilizado um Sistema de Repetição não alinhado com deslocamento horizontal e também que o desenho inicial foi posicionado em sentidos opostos dentro da célula. Mais detalhes a seguir:
Sistema de Repetição não alinhado
O Sistema de Repetição define a regra que deve ser seguida para a criação do padrão. Ele consiste basicamente num Grid formado por células dentro das quais os módulos são posicionados.
No Sistema de Repetição não alinhado as células são deslocadas na horizontal ou na vertical e por isso o módulo tem que ser projetado de tal maneira que, quando repetido lado a lado, resulte na noção de deslocamento desejada.
Exemplo de Sistema de Repetição com deslocamento horizontal, também conhecido como “Tijolo”
Célula x Módulo
Como você deve ter reparado no exemplo acima, existe uma diferença entre a célula e o módulo.
Isto significa que o módulo pode ser posicionado dentro da célula de diferentes maneiras, por exemplo rotacionado ou refletido (como os peixes no padrão com fechamento).
Superposição
E também é importante notar que o módulo não precisa ter, necessariamente, o mesmo tamanho da célula.
No caso de um módulo menor do que a célula temos espaços entre os módulos e no caso de um módulo maior do que a célula temos uma superposição de módulos.
Célula x Módulo e Superposição
Técnica para encontrar o Módulo com Rapport
Gostou de um padrão mas não está conseguindo visualizar o módulo?
Experimente: escolha um ponto de partida bem definido ( P ), siga para a direita e para baixo até encontrar o mesmo ponto, criando um quadrado ou retângulo imaginário.
Pronto! Ai está o Módulo com Rapport.
Conclusão
Mesmo que contradizendo as explicações tradicionais, no fundo no fundo, eu até arriscaria dizer que Rapport NÃO é repetição …
Que tal procurar no dicionário?
Se você procurar no dicionário a definição ou a tradução da palavra Rapport (de origem francesa) você não vai encontrar nada falando de repetição e sim sinônimos como harmonia, ligação e conexão, sempre do ponto de vista de um relacionamento.
Faz todo sentido!
No padrão com Rapport este “relacionamento” acontece entre os lados do módulo, isto é, no encaixe entre os módulos.
Logo, na prática da criação de padrões, Rapport é encaixe.
Lula Rocha
Rio de Janeiro, abril 2014
Lula Rocha é designer com mais de 20 anos de experiência em projetos de Identidade Visual, Produção Gráfica, Tratamento de Imagem, Desenho Vetorial e Webdesign. Formado em Comunicação Visual e Desenho Industrial pela PUC-Rio e Mestre em Design pela Central Saint Martins College of Art & Design. Professor dos cursos de Graduação em Design da PUC-Rio e Pós-graduação em Design de Estamparia do SENAI/CETIQT-RJ. Especialista Certificado Adobe e cofundador do site Metapix.
Posso usar este material?
Sim. Sempre dentro dos limites da legislação de direito de autor e de direitos conexos, esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir deste material para fins não comerciais, desde que atribuam a Lula Rocha o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
©2014 Lula Rocha. Licença Creative Commons.
Atribuição – Não comercial – Compartilha igual
Composição em escala
A composição em escala é um exercício em que se explora a modularidade em diferentes tamanhos.
Para esse trabalho trabalharemos com um mesmo módulo em três tamanhos diferentes (5cm, 10cm e 15cm).
A ideia é explorar a continuidade e modularidade pela justaposição de módulos semelhantes mas em diferentes escalas. As exigências são as seguintes:
- Não pode haver sobreposição do módulo (espaço negativo)
- A composição deve contar com ao menos duas cópias de cada tamanho
- Admite-se o uso de fotocópias (xerox) para a montagem do padrão.
- Deve haver cuidado com acabamento, especialmente no caso de colagem das cópias.
Caso se trabalhe com cópia, aconselha-se colá-las cuidadosamente sobre uma superfície rígida (cartolina, papel pluma ou paraná).
Cuidado com orelhas soltas e rugas na colagem. Para precavê-las usar cola bastão, cola branca diluída e aplicada com rolo de espuma ou cola spray.
Nó Celta
Os nós celtas são padrões decorativos bastante conhecidos que simulam uma malha entrelaçada como se fossem nós. Bastante utilizados pelos celtas na Idade do Ferro (800 a.C. – 43 d.C.) e, posteriormente na Idade Média, possuíam diferentes aplicações, seja entalhados em pedra, forjados com metais, trabalhados em joalheria ou mesmo aplicados em iluminuras e ilustrações de livros. A ocorrência desses padrões entrelaçados aparecem em vários exemplos, como no evangelho de Lindisfarne (700 d.C.)
Também eram bastante usados na ornamentação, como no broche abaixo:
Além do popular em lápides nas tradicionais cruzes anglo-saxônicas.
Os vídeos abaixo ensinam como desenhar padrões com nós celtas. Vale a pena conferir.
https://youtu.be/o20CaYx0tl4?t=41m12s
http://www.youtube.com/watch?v=_O_0yegDdIw&feature=share
https://youtu.be/_O_0yegDdIw
Impressão de padrões em tecidos
A impressão de padrões em tecidos pode empregar diferentes técnicas. A mais antiga delas é a que utiliza blocos de madeiras, bastante comum na China e na Índia. O bloco funciona como um carimbo, preparado a partir do entalhe da superfície, deixando em alto relevo aquilo que vai ser impresso.
Outra forma de impressão é o pochoir ou stencil. A matriz é uma superfície de papel ou plástico cortada que mascara parte da superficie, enquanto permite que os buracos sejam impressos.
Além destas, há também a impressão em serigrafia ou silk-screen que utiliza uma tela semi-permeável. A tela é preparada de modo que parte da superficie obstrui a passagem da tinta enquanto as outras partes permitem que a tinta passem.
Bordas
As bordas são um caso singular de aplicação de padronagem. Normalmente envolvem a repetição de um ou mais padrões em apenas um eixo (horizontal ou vertical).
No projeto de uma borda, devemos nos ocupar também da maneira como realizaremos a virada, ou seja, a troca de um eixo para outro. O planejamento deve prever a continuidade do padrão de maneira equilibrada e coerente com o desenho.
Pied de Poule
A padronagem Pied de Poule (fala-se “piê-de-pul”) é bastante conhecida por sua aplicação em estamparia, bastante empregada na moda.
O nome vem do francês e significa pé de galinha, por causa do tipo de desenho que forma o padrão. Normalmente é aplicada em monocromia, especialmente em preto e branco. Trata-se de uma forma deslocada de xadrez, no qual o encaixe é mais elaborado, o que disfarça o reconhecimento do módulo.
Em inglês é conhecida como Dog’s Tooth ou Hound’s Tooth e é associada aos dentes dos cachorros. Embora sejam tratadas como equivalentes, o pied de poule costuma ter uma forma característica mais assimétrica, enquanto o dog’s tooth apresenta-se mais na forma de cruz (ou suástica).
Princípios de padronagem
Vamos relembrar alguns assuntos das aulas a seguir. Abaixo os princípios de módulos, sistema e alguns tipos de repetição: bloco (ou quadrado), tijolo, half-drop e diamante.
Abaixo outros tipos de sistema (Diamante, Colmeia, Ogee e Escama)
Princípios de simetria
Olá pessoal, para relembrar a aula de hoje, seguem aqui os quatro princípios de simetria do plano que constituem a base geométrica para trabalhar a padronagem.